sábado, 22 de dezembro de 2012

ALZHEIMER NO TEATRO


O drama do mal de Alzheimer no teatro

Baseada no livro "O lugar escuro", da jornalista Heloisa Seixas, peça mostra como a terrível doença pode afetar as relações afetivas de uma família


Peça O lugar escuro (Foto: Leo Avers/Divulgação)
(Imagem - fotografia colorida com atrizes, autora e diretor - Heloisa (sentada, à esquerda) com o elenco da peça, as atrizes Clarice Niskier, Camilla Amado e Laila Zaid, e o diretor André Paes Leme  (Foto: Leo Aversa/Divulgação)


Em 2007, a jornalista e escritora Heloisa Seixas, publicou o livro O lugar escuro, no qual relatava como a doença da mãe, Maria Angélica, que sofria do mal de Alzheimer, atingia as relações afetivas de toda a família. A história também será contada, a partir de janeiro, no teatro, em uma adaptação feita pela própria Heloisa. No elenco, as atrizes Camilla Amado, Clarice Niskier e Laila Zaid.
“Mostro a minha raiva com a doença, e, depois, a compaixão”, diz Heloisa. Ela, que é casada com o também escritor Ruy Castro, acompanhou por mais de dez anos a doença da mãe e diz ter encontrando “pontos luminosos” no meio do sofrimento. “É o que te dá um alento”, diz. A mãe de Heloisa morreu em abril deste ano, aos 90 anos.
Em conversa com ÉPOCA, Heloisa falou sobre o momento no qual decidiu colocar no papel tudo o que viveu com a doença da mãe e como encontrou saídas para enfrentar a situação. “Na pior das hipóteses, leve na brincadeira. Ria”, diz. A peça O lugar escuro estreia no dia 4 de janeiro, no SESC Copacabana, no Rio de Janeiro. A direção é de André Paes Leme. 
ÉPOCA - Escrever o livro a ajudou a superar o problema da doença da sua mãe?
Heloisa –
 Eu estaria mentindo se dissesse que não. Mas, ao mesmo tempo, quando escrevi, eu já tinha me pacificado. E só essa curva de pacificação que me permitiu escrever sobre o assunto. Na época, não tinha certeza de que publicaria o livro. Queria colocar aquilo no papel para acabar de entender o que tinha acontecido. Eu mostro muito a minha raiva, e depois, a compaixão. A peça também traz isso de forma muito clara, transparente. Quando o livro saiu, eu comecei a notar que as pessoas ficavam muito mexidas. Em palestras e entrevistas que dei, muita gente se emocionava.
ÉPOCA – Como você passou isso para a peça? 
Heloisa 
– A peça não é só sobre o mal de Alzheimer. Ela trata da relação de mãe e filha, ciúmes entre irmãos, conflitos familiares. Sobre a loucura de uma forma bem ampla, inclusive, a loucura de escrever. Como se pode encontrar, nesse lugar escuro, nessas dificuldades, as saídas, o pontinhos luminosos no meio de uma situação terrível.
ÉPOCA - Você demorou a perceber esses “pontos luminosos”?
Heloisa –
 Sim. Quando escrevi o livro, em 2006, mamãe já estava doente há cinco anos. Em 2002, a doença se agravou e as coisas se tornaram muito difíceis. Aos poucos, fui aprendendo com a doença e me suavizando.
ÉPOCA – Quais conflitos familiares a doença da sua mãe trouxe?
Heloisa –
 No meu caso, em um primeiro momento, aflorou um ciúme do meu irmão. Eu passei a achar que minha mãe gostava mais dele do que de mim. E ele está fora do país há 30 anos, morando no Havaí. Ele ficou15 anos sem vir ao Brasil. Senti raiva, revolta, por só eu ter que cuidar da minha mãe. Depois, quando o livro saiu, houve conversas com meu irmão, e até com meu pai, que ainda está vivo e lúcido, que eu nunca havia tido. O livro desfez nós, deixou cair máscaras. Eu tenho a sensação de que a minha relação com eles melhorou muito depois disso tudo.
ÉPOCA – Ainda a machuca rever essa história?
Heloisa –
 Às vezes, me emociono. Ver a história em uma peça é diferente. As atrizes colocam coisas delas, da história de vida delas, que me surpreendem. Os ensaios estão sendo emocionantes. Aliás, em 2011, fizemos uma leitura dessa peça. O Ruy (Castro) havia viajado no mesmo avião da Fernanda Montenegro e falou para ela sobre o meu livro e sobre a adaptação para o teatro. Ela se interessou pelo roteiro da peça. Eu, despretensiosamente, deixei o roteiro na portaria do prédio da Fernanda. Depois, ela me ligou, muito emocionada. Eu, na cara de pau, fiz o convite para ela fazer a leitura. Ela me avisou que, por conta de compromissos profissionais já assumidos, não poderia fazer a peça, mas que queria fazer a leitura. E foi uma catarse coletiva! Foi em um centro cultural pequeno no Leblon. Tiveram que distribuir senhas, colocar telão...
ÉPOCA – Você tem um conselho para dar a quem tem alguém com o mal de Alzheimer na família?
Heloísa – Se você tiver a possibilidade, tenha um espaço para respirar. Não se entregue totalmente à doença da pessoa, senão você entra junto no buraco. Preserve-se. Se puder, pague acompanhante. Se tiver que internar, interne, sem culpa. Na pior das hipóteses, leve na brincadeira. Muitas vezes, as alucinações causadas pela doença são engraçadas. Então, ria.
FONTE - Revista Época http://revistaepoca.globo.com/cultura/noticia/2012/12/o-drama-do-mal-de-alzheimer-no-teatro.html
LEIAM TAMBÉM MEUS TEXTOS SOBRE ALZHEIMER NO MEU BLOG - 

ALZHEIMER NÃO É UMA PIADA, mas pode ser poesia de vida http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2011/06/alzheimer-nao-e-uma-piada-mas-pode-ser.html

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