quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Escolha por escola especial não representa conformação

EDUCAÇÃO E INCLUSÃO -

Bruna Romão - Agência USP de Notícias
Criança portadora de autismo participa de atividade pedagógica. (Observatorio de la Infancia en Andalucía / Creative Commons)
A escolha de pais de crianças autistas ou com deficiência intelectual por escolas de educação especial não se dá por uma atitude de conformação, mas sim pela busca da melhor opção para seus filhos, atendendo às suas demandas. “O fato de a escola ser especial ou regular não é tão significativo, pois eles querem o melhor para seus filhos” diz o psicólogo Ricardo Schers de Goes, autor da dissertação de mestrado A escola de educação especial: uma escolha para crianças autistas e com deficiência intelectual associada de 0 a 5 anos, desenvolvida no Instituto de Psicologia (IP) da USP, sob orientação da professora Marie Claire Sekkel.
O estudo, realizado a partir de leituras de pesquisas e literatura da área e conversas com famílias de crianças autistas, buscou investigar os motivos pelos quais pais de crianças com autismo e deficiência intelectual associada decidem matricular seus filhos em escolas de educação especial. “Apesar de existirem muitos estudos nestes campos, ainda não há um consenso e uma precisão sobre estas questões, o que dificulta o esclarecimento dos pais e, consequentemente, a decisão pela escola dos seus filhos”, comenta o psicólogo.
Ricardo entrevistou pais de duas crianças, sendo um casal pais de um menino de 6 anos e um homem pai de outra criança da mesma idade. Nos dois casos houve tentativas anteriores frustradas de entrada em escolas regulares, o que levou os pais a procurarem a educação especial. “Pelas entrevistas verifiquei que há resistência dos pais nessa escolha, pois fazem várias tentativas em escolas regulares e especiais até encontrarem a que acham melhor. Inclusive, neste processo, criticam e discutem com as escolas em que tiveram experiências frustradas, o que mostra uma posição de resistência e não conformação dos pais”, relata o pesquisador. “A pesquisa entrevistou somente pais que escolheram no final matricular seus filhos em escola de educação especial, mas também há aqueles que depois destas tentativas frustradas tanto na educação especial quanto no ensino regular acabam por escolher o ensino regular”, lembra Ricardo.
Educação infantil e inclusão
A educação infantil, com as condições adequadas para que os alunos convivam com a diversidade, pode ser uma etapa e ambiente importante para a inclusão de crianças com autismo ou deficiência intelectual. “Crianças com e sem deficiências frequentando a mesma escola podem, por esta aproximação, ter uma diminuição do preconceito para com o diferente”, explica o pesquisador. Considerando esta questão, as atuais políticas de educação especial no Brasil, inclusive, apontam para que a escolarização aconteça nas escolas de ensino regular.
Desta forma, opina o psicólogo, a segregação que ocorre em função das escolas de educação especial não contribui para a inclusão e o fim do preconceito contra crianças com esse tipo de deficiência. “Mas nas escolas regulares muitas vezes encontramos crianças isoladas do convívio com as outras crianças e também sem uma atenção pedagógica para ela, como se o fato de apenas estar lá já garantisse a chamada inclusão”, pondera. E completa: “A discussão que deve ser feita é em relação ao direito à educação e não apenas a questão da inclusão. Ou seja, todas e todos devem ter direito à educação, acesso e permanência com qualidade”.
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